O Sul Livre e o Voluntariado
Fábio Zucco
No artigo anterior, Brasília e a Servidão, mostrei como o poder central brasileiro governa via uma matemática ilógica e perversa, transferindo recursos das regiões mais produtivas para as menos produtivas, sem que com isso seja promovida a autossuficiência dessas regiões que recebem mais recursos do que arrecadam. Muito pelo contrário, essas regiões se perpetuam na pobreza. Isso se dá porque os investimentos feitos lá nunca visam emancipar o indivíduo, mas sim criar dependência. É uma servidão perversa por seu obscurantismo.
Não obstante, a consequência mais trágica do centralismo de Brasília é também a mais silenciosa, a que menos é percebida. Todo esse intervencionismo planaltino atinge o cerne de toda a sociedade, a cultura. Geração após geração recebendo assistência, sendo educada a esperar que o poder central resolva as questões mais comezinhas, sempre de pires na mão. Isso criou a cultura da dependência e a terceirização da responsabilidade, passando para o estado aquilo que deveria ser função e responsabilidade dos indivíduos e da comunidade.
Essa cultura da dependência estatal atinge todos os aspectos da vida, desde questões macroeconômicas ou de finança pessoal até problemas de vizinhança. Coisas que deveriam ser simples como limpar um terreno baldio na rua, ou boicotar estabelecimentos comerciais que aparentemente abusam de preço, as pessoas optam por apelar por instituições governamentais.
Cultura contaminada
Outro dia um amigo meu, que se diz liberal, reclamou que as autoridade não faziam nada com relação o alto preço dos combustíveis em nossa cidade, já que na sua cidade natal, muito mais longe dos centros de distribuição, o preço médio era menor. Veja, um dito liberal quer que o governo regule preços! Não precisei argumentar muito para ele se tocar, mas o seu primeiro impulso foi apelar para o governo. Isso é significativo e indicativo de como nossa cultura está contaminada pela ideia de dependência do estado.
A minha rua até hoje é de estrada de chão, apesar de ser bem curta, já que os moradores não quiseram contribuir com uma vaquinha para pavimentá-la. Estão ainda esperando que algum político fale com algum outro político que tenha amizade com alguém no departamento de obras . . . Em épocas de eleição é mais provável, mas já se passaram tantas!
Toda servidão se utiliza, além da força bruta, da doutrinação de que a condição do escravo lhe é natural. Cria-se toda uma narrativa de que sem o seu senhor o escravo não sobreviveria ou viveria numa condição de maior penúria ainda. E o servo, dependente de que é das “benesses” do seu senhor, vive preso num mundo ilusório como no mito da caverna de Platão, sem perceber que depende só dele próprio para soltar as amarras e partir para uma condição muito melhor de vida. É bem isso que Brasília faz ao promover tanto assistencialismo: amarrar populações inteiras a uma ilusão de dependência inexorável.
Self government
No Sul Livre o assistencialismo partirá de ações particulares, ou não partirá. Mas ocorrerá fatalmente. Pois já ocorre. Perceba, no mundo, exatamente onde menos as pessoas contam com ajuda estatal é que ocorre mais a caridade e o voluntariado. Os Estados Unidos nasceram sob a égide do self government, o autogoverno, ou seja, os colonos se autogeriam. E é nos Estados Unidos onde o povo mais é voluntário e faz caridade.
No entanto, temos que ter cuidado para não tomar a causa pela consequência. As pessoas são mais voluntárias e caridosas porque não esperam pelo estado, e não é o estado que ajuda menos porque as pessoas são mais caridosas. Dito em outros termos, as pessoas se mexem quando o estado não está presente.
E os exemplos abundam. Olhe ao redor, veja as comunidades religiosas. Na minha cidade, e percebi isso também em cidades maiores e menores, até em lugares bem pobres, raro há uma localidade em que não existe igreja, templos e comumente salão paroquial. Nada disso foi feito com ajuda de governo algum. É o voluntariado em ação. As pessoas tem suas necessidades coletivas, se unem, uns poucos tomam a frente, e a coisa acontece. Agora, se a igreja fosse incumbência do estado . . .
Profissionalização
Clubes esportivos são outro belo exemplo. Outra forma de a coisa acontecer é pela iniciativa privada. Quando eu era pequeno a garotada se reuniu para fazer um campo de várzea. Que aprendizado de vida! Ninguém foi apelar para político algum. No entanto, hoje existe pela cidade muitos campos bem estruturados construídos por particulares visando vender o serviço. A coisa se profissionalizou!
Famílias carentes, sempre foram socorridas por entidades privadas, sendo as igrejas as que mais se mobilizaram para este fim. Hoje cabe mais às ONGs – também aqui a coisa se profissionalizou – e elas existem de todos os tipos: educacional, assistencial, ajuda médica, ambiental, etc. Falo de ONGs de fato – Organizações Não Governamentais – aquelas que dependem unicamente de ajuda voluntária. O problema é que boa parte dessas ONGs se viciaram na ajuda governamental e perderam a sua essência.
Cada vez que a sociedade se organiza à reveria de Brasília, está dando um grito de independência. O Sul não só está entre as regiões que menos depende de Brasília, como uma das que mais pratica a caridade e o trabalho voluntário. Então, não é à toa que é no Sul que existe a maior inquietude diante do autoritarismo de Brasília.
Num dos artigos sobre educação, eu demonstrei que mesmo a escola prescinde de ser estatal. Citei exemplos de que até nos lugares mais pobres do mundo os pais optam por escolas privadas, e mesmo nessas comunidades se faz caridade ofertando matrículas gratuitas para os mais pobres entre os pobres.
Caridade com dinheiro alheio
O assistencialismo planaltino faz caridade com dinheiro dos outros. Usurpa dos estados mais ricos para assistir os mais pobres. Mas de maneira imperfeita e dispendiosa, pois boa parte se perde em trâmites burocráticos e se esvai misteriosamente no caminho. Sendo assim, o assistencialismo de Brasília é ineficaz e mal intencionado, uma vez que oblitera o veio caridoso e voluntário da sociedade. Vicia as pessoas a esperar por ajuda governamental, quando a maior parte dos problemas seriam resolvidos em âmbito local, por iniciativa de particulares e por um custo infinitamente mais baixo.
Há ainda a questão da justiça na forma de alocar recursos para a assistência. Todo o centralismo planaltino, por mais bem interessado que fosse – o que não é o caso! – não dá conta de, através de regras e trâmites burocráticos, verificar se o dinheiro está chegando para quem de fato precisa. Corriqueiro é ver notícias de famílias que não se enquadravam nos critérios e mesmo assim recebiam ajuda, além de uso político-eleitoreiro dessa ferramenta.
O Sul Livre será um país em que existirão ONGs e elas serão não governamentais de fato. O trabalho voluntário ocorrerá espontaneamente e as pessoas necessitadas receberão ajuda de forma a estimulá-las a se emancipar, porque não será do interesse de ninguém mantê-las na condição de dependência. A caridade é uma característica humana e prova disso é que sempre existiu. Mas ela tem que ser espontânea e não compulsória, como ocorre hoje, visto que parte da justificativa de tantos impostos é de redistribuir renda. Isso não é caridade, é usurpação com uma fachada de assistencialismo. No Sul Livre o cidadão pagará menos impostos e com isso terá mais condições de auxiliar pessoas, ONGs ou entidades que lhe aprouver.
Viva o Sul Livre!
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