Carta aos Conservadores
Fábio Zucco
“Os argumentos da tirania são tão desprezíveis quanto sua força é terrível” (Edmund Burke)
Caro Conservador,
Quero dirigir-me diretamente a você, amigo conservador, na qualidade de membro do Movimento O Sul É O Meu País-MSMP. Tanto tenho a dizer, pois tantas coisas temos em comum, mas que, tenho certeza, você ainda não se deu conta. Tenho visto as suas lutas, e em muitas temos lutado juntos, mesmo que a minha presença e de meus compatriotas do Movimento tenha lhe passado despercebida. Não obstante, não se ofenda quando lhe digo que sua luta, por mais digna, justa e verdadeira que seja, tem sido direcionada para alvos errados, incertos, feito golpes de espada nas nuvens. Você é idealista, mas seu ideal nunca se realizará tentando mudar o que já não pode mais ser mudado, tentando curar o doente já em estado terminal. Você insiste em defender o Conservadorismo num sistema político centralizado que visa somente a concentração de poder, desprezando qualquer manifestação de autonomia popular, que é onde de fato se preserva tradições e costumes. Vou lhe apresentar, nesta carta, o único e verdadeiro caminho para o exercício dessa autonomia popular e, por conseguinte, do Conservadorismo.
“Não sabemos tirar da História todas as lições morais que ela comporta. Pelo contrário, a mesma pode ser usada para viciar nossa inteligência e destruir nossa felicidade se a utilizamos sem precauções” (Edmund Burke)
Para defender o meu ponto, primeiro preciso conceituar Conservadorismo tal qual eu o entendo. Missão difícil, pois o termo remete a entendimentos os mais diversos, além de que, como lembra o professor e escritor Bruno Garschagen no programa Insight BP da Brasil Paralelo, cada nação tem sua própria tradição que reflete numa prática conservadora distinta. No entanto, o Conservadorismo tem, ainda segundo Garschagen, aspectos gerais que o definem, como a predominância da sabedoria prática sobre teorias não comprovadas empiricamente, “restauração e preservação das coisas positivas que sobreviveram aos testes do tempo, além de ser reformador e eliminador das coisas negativas”. O Conservadorismo é, portanto, averso a rupturas bruscas e é antirrevolucionário, como bem deixou claro seu iniciador, Edmund Burke, na carta que escreveu a um jovem político francês na época da Revolução Francesa, e que se tornou o livro Reflexões sobre a Revolução na França.
Conservadorismo é, portanto, de maneira bem sintética, o exercício político baseado em ações e valores do passado que passaram pelo crivo da experiência e foram aprovados, bem como a rejeição do que se mostrou errado ou inadequado. O passado, a História é, pois, a referência para a ação política.
No entanto, o que fazer quando a experiência nos mostra que um país repete constantemente os mesmos erros, e que o passado deste país pouco nos diz como agir, mas é extremamente fecundo em nos mostrar o que não fazer? E quando se chega à conclusão que para preservar os bons valores de uma sociedade o único meio é romper com o poder opressor? Qual seria neste caso a ação adequada a um conservador: insistir em tentar mudar aquela ordem política que só tem degenerado tudo que há de bom na sociedade, ou romper com essa ordem e construir uma nova nação com os meios de preservar o melhor e eliminar toda podridão?
“Um Estado sem meios para mudar, não tem meios para se conservar” (Edmund Burke)
Muitos conservadores se descobriram como tal há bem pouco tempo, e entraram logo numa luta inglória para preservar valores que lhes são tão caros! Têm colhido só decepções e frustrações. Aquilo que parecia ser seu Norte, mostrou-se um beco sem saída, e pouco entendem porque isso aconteceu. Não prestaram atenção de que o Brasil é uma construção constante de opressão e desrespeito aos mais caros valores, como família, fé, honestidade e Liberdade. É toda uma tradição de centralismo, autoritarismo, usurpação e combate à autonomia dos entes federados e indivíduos. O conservador tupiniquim cedo ou tarde deverá cair na real e perceber que esse é o verdadeiro legado da América Portuguesa, e que tal legado está enraizado nos cantões mais profundos das instituições brasileiras. Não dá para mudar. Já era!
Não é, pois, nas instituições estatais que estão os verdadeiros e edificantes valores, mas sim no seio da sociedade, no coração das comunidades. É ali que os valores cristãos e o apego à Liberdade se edificaram e é onde devem ser preservados.
Lembro da conversa com um amigo independentista e conservador, que por isso mesmo estará lendo esta carta. Ele me contou que viveu um tempo em Navegantes e depois em Jaraguá do Sul. Duas cidades relativamente próximas, em Santa Catarina. Ele se espantou como alguns hábitos eram bem diferentes, mesmo em cidades quase vizinhas. É que a formação de cada um desses locais foi peculiar, gerando costumes e tradições distintos. Não se trata de um ser melhor que o outro, mas diferentes. Podemos imaginar que havendo autonomia legislativa em âmbito municipal, Navegantes e Jaraguá do Sul fariam leis próprias, porém adequadas aos costumes de cada povo. Isso, no meu entender, é Conservadorismo.
“Um povo que não cultiva a memória de seus ancestrais não cuidará de seus descendentes” (Edmund Burke)
Fico me perguntando, como pode alguém ainda crer que é possível o Brasil, mantendo a ordem política-administrativa extremamente centralizada de hoje, ser conservador. O povo pode até ser, mas administrativa e legislativamente jamais. O centralismo é nossa tradição e nosso anátema. E neste ponto discordo de Garschagen ao aclamar o Partido Conservador da época do Império. Ele está certo ao afirmar, citando João Camilo de Oliveira Torres, que este partido foi o construtor do Brasil, mas discordo de que essa construção foi algo positiva. Os conservadores da monarquia, lembra o escritor, foram os responsáveis pela unidade territorial brasileira, mas esquece de dizer que isso foi à custa do sangue de milhares e milhares de pessoas que não se sentiam brasileiras e que buscavam a emancipação. A única solução para manter a tão decantada integridade territorial foi concentrar ainda mais poder e sufocar violentamente qualquer manifestação de autonomia regional. E do que valeu tanto esforço para manter o gigantismo do Brasil? O golpe militar que derrubou a monarquia, foi o resultado. Getúlio Vargas, foi o resultado. Mais ditadura, foi o resultado. Corrupção, foi o resultado. Ambiente fértil para o florescimento de ideologias demagógicas e inimigas da Liberdade, foi o resultado. Um povo frustrado e com esse sentimento de impotência diante de tantos desmandos e usurpações, foi o resultado.
Há um outro aspecto do Conservadorismo, para mim o mais importante, o qual agora quero discutir. Trata-se do apego à Liberdade. Edmund Burke alertou o grande risco que a França corria ao querer, os revolucionários, passar a borracha no passado, querer reconstruir a sociedade a partir do nada, desprezando o legado dos antepassados. Burke era grande entusiasta da Revolução Gloriosa, que em 1688 no seu Reino Unido, conseguiu algo espetacular: romper com o arbítrio dos reis absolutistas, conservando a tradição monárquica. Poucos sabem que foi a partir daí que a Inglaterra deu seu grande salto para se tornar a nação mais próspera dos dois séculos seguintes. Os próprios iluministas franceses se inspiravam na Liberdade que gozavam os ingleses. Mas isso só foi possível porque os britânicos souberam construir um futuro melhor não rompendo com o passado, mas, ao contrário, reforçando uma tradição de limitação do poder que remontava à Idade Média.
“Longe de ser um ‘berçário de novas revoluções’, a Declaração de Direitos de 1688 foi um pacto que confirmou os direitos e as liberdades dos ingleses” (Edmund Burke)
Burke, então, sabia o que dizia quando alertou os franceses dos perigos de a França cair numa tirania se insistisse numa revolução milenarista, como era a Revolução Francesa. Previu inclusive, a possibilidade de o tirano ser um militar. E foi tudo o que aconteceu: os jacobinos oprimiram, assassinaram, destruíram a economia, mergulharam o país num caos. E para “salvar” a França, Napoleão Bonaparte concentrou poderes e mergulhou a Europa num banho de sangue. Enquanto os britânicos, um século antes, foram sábios em livrar-se do absolutismo reforçando seu passado de luta pela Liberdade, os franceses, desprezando seu legado histórico acabaram se entregando para um tirano pior do que qualquer monarca absolutista.
Mas o melhor exemplo de como o Conservadorismo, ao filtrar a experiência histórica passa a ser uma trincheira ao avanço da tirania, é a Independência dos Estados Unidos. Os colonos americanos, ao se desvencilharem da Inglaterra não estavam rompendo com a tradição, mas sim reivindicando-a, pois buscaram na própria história inglesa de luta pela Liberdade, como mostrei acima, os fundamentos para declarar sua independência. A Revolução Americana foi um movimento conservador.
Se a América Portuguesa tem um histórico de centralismo, opressão e usurpação, o Sul, ao contrário, carrega desde sempre a tradição de iniciativa pessoal, pioneirismo e empreendedorismo. Desde as missões jesuíticas, passando pelas ondas colonizadoras, como a açoriana e, em especial, as levas de imigrantes que para cá vieram no século XIX e início do XX, tudo que no Sul se fez, foi a partir da iniciativa e do suor de particulares, que espontaneamente e sem esperar por ajuda governamental, se organizaram, juntaram esforços e construíram a nossa verdadeira pátria.
“No que melhoramos nunca somos completamente novos, e no que conservamos nunca somos completamente obsoletos” (Edmund Burke)
Quando se fala em secessão do Sul, do movimento o MSMP, é porque uns poucos acordaram e perceberam que, em nome dos nossos antepassados – a quem devemos nosso estilo de vida e nossa prosperidade – e em nome de nossos descendentes – para quem queremos deixar um país melhor para viver – devemos romper com o arbítrio de Brasília para preservarmos nossas tradições, usos e costumes. Para preservarmos nossa Liberdade. Sem a independência, tudo que nos legaram se perderá, será tirado de nós.
O MSMP sempre se posicionou como liberal e conservador, pois entende que a tradição e a Liberdade são os maiores legados que podemos deixar para nossos filhos. Sem tradição e Liberdade, não há prosperidade.
Propomos um novo país. Um país que já está aí, o Sul, mas livre das amarras de Brasília. Um país em que as decisões e leis sejam elaboradas em nível municipal, respeitando os hábitos de cada localidade. Um país cujos impostos fiquem em sua maioria nos municípios, para serem aplicados segundo as prioridades e interesses locais.
Perceba, leitor conservador, um país conforme propomos, de administração tão descentralizada, respeitará automaticamente as tradições, usos e costumes dos locais de onde de fato se vive: o município. Não é possível ser conservador e requerer a aplicação das mesmas leis para regiões de costumes e hábitos tão distintos como ocorre no Brasil. Somente através de uma Confederação Municipalista, de acordo com o modelo proposto pelo MSMP, é que podemos criar um ambiente de respeito e conservação dos costumes locais.
“A afeição à subdivisão, o amor ao pequeno núcleo da sociedade a que pertencemos, é o primeiro princípio (o germe, por assim dizer) dos sentimentos de afeição pública. É o primeiro elo de uma cadeia que nos une por amor à nossa pátria e à humanidade” (Edmund Burke)
Então, amigo conservador sulista, proponho a você focar sua luta na construção do Sul Livre, onde seus valores e suas tradições serão respeitados, isentos do centralismo e do gigantismo desse país insano e injusto chamado Brasil. Proponho enterrar a bandeira verde e amarela e ostentar a bandeira azul de três estrelas. Um novo e orgulhoso patriotismo, fundado na Liberdade e na tradição, e em um projeto de país municipalista, justo, liberal e conservador.
Viva o Sul Livre – Nação Conservadora
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