Educação

Universidades: A Cooptação

Fábio Zucco

                No primeiro artigo discuti acerca da missão histórica das Universidades de desenvolver o pensamento crítico e investigar o mundo tal qual ele é, e como essa missão foi deturpada em muitos cursos superiores ao querer adequar a realidade ao discurso. Total inversão epistemológica! Também pontuei que para reforçar essa distorção da percepção da realidade as Universidades públicas ofertam um número bem além do necessário de cursos, em especial na área de humanas, em que é mais fácil emplacar essas narrativas.

                Pois bem, o objetivo agora é apresentar um sucinto panorama das Universidades brasileiras, em especial, é claro, das públicas. Para começar, devo destacar que o maior orçamento da União é do Ministério da Educação e Cultura-MEC, sendo os gastos com as Universidades públicas a maior fatia. Já aqui se percebe o vespeiro que é unicamente questionar a existência dessas instituições de ensino. Há muitos bons empregos envolvidos e alunos beneficiados. E mais, muito mais!

Mensuração

                Há duas maneiras básicas de se mensurar a performance das Universidades. Pelo volume de produção acadêmica, e pelas indicações dessas produções em outras obras e por outros autores. Pelo primeiro critério, consta que as Universidades públicas brasileiras até que vão bem. Mas pelo segundo . . . . Ou seja, se produz muito, porém de pouca qualidade. E produzir com pouca qualidade no mundo acadêmico significa que os artigos não repercutiram ou não causaram impacto, por falta de fundamentação, de pura originalidade ou simplesmente por não serem de interesse da sociedade. Não obstante, essa produção de pouca valia social tem seu custo, e, no caso das Universidades públicas, é muito elevado e pago com dinheiro usurpado dos cidadãos através de impostos.

                Sou das humanas, logo, tenho lugar de fala! Brincadeira, todos tem direito de colocar em questão a existência de tantos cursos na área de humanas, assim como sua grade curricular. Todos somos pagadores de impostos e devemos ter o direito de saber onde o dinheiro está sendo aplicado. Só que num país de administração supercentralizada, que a partir de Brasília se define direta ou indiretamente o ensino em dezenas de Universidades, isso é impossível. As Universidades públicas são um mundo à parte em que o resto da sociedade, mesmo bancando-as, não tem gerência alguma.

Público-alvo

                Uma realidade que é patente é que as Universidades públicas não atingem o público que deveriam atender: os mais pobres. Pois ocorre exatamente o contrário, a triagem para o ingresso num desses estabelecimentos de ensino é ferrenha. Poucos acabam sendo aceitos, e são exatamente aqueles que tiveram a oportunidade de uma Educação Básica que os preparou para aquele momento. Ou seja, os que estudaram em escolas privadas, que, obviamente, não são os mais pobres.

                E aí chegamos num outro ponto a se discutir: a qualidade superior das Universidades públicas, na média bem acima das privadas. Isso é um fato, que por si só não é suficiente para justificar tamanha metida de mão no bolso do cidadão para custeá-las. Ocorre que, boa parte da explicação desse ensino de maior qualidade está nos alunos, não nos professores e na instituição. Como dito acima, a triagem é rigorosa, só os melhores e mais preparados conseguem ser aprovados. Lógico, os professores também são contratados mediante uma seleção exigente, o que nos faz supor que são bem preparados. Mas, quem é professor sabe, por mais qualificado e bem-intencionado que você seja, se pega uma turma sem conhecimento de base, não conseguirá avançar muito.

                Veja, poucos são os alunos que conseguem atingir um nível elevado sem uma estrutura educacional adequada. As escolas públicas, me refiro agora às de Educação Básica, não oferecem, na sua enorme maioria, nem estrutura física e muito menos profissionais com qualificação que promova um adequado desenvolvimento intelectivo. Bem diferente do que ocorre nas escolas privadas. E caímos nesse esdrúxulo paradoxo a la brasileira: as famílias mais abastadas pagam a Educação Básica – que custa bem menos – para seus filhos, e recebem de graça a Educação Superior, que é de custo bem mais alto.

Reação à mudanças

                E assim a gente começa a entender porque quando se fala em cobrar mensalidades ou qualquer outra mudança, além dos professores, alunos e demais funcionários dessas instituições, outros a reagirem fervorosamente contra são os donos de escolas privadas, já que um de seus grandes apelos publicitários é preparar o aluno para passar no vestibular das Universidades públicas. Divulgam, inclusive, a quantidade e até os nomes dos aprovados como estratégia de marketing.

                A questão é bem simples: se se utiliza o dinheiro de impostos para oferecer um serviço para a população, isso só faz sentido se for destinado para quem não pode custear esse serviço. Logo, as Universidades públicas brasileiras não estão cumprindo sua função social, só para usarmos os termos de quem as defende.

                O direcionamento dos gastos em Educação, por sua vez, é totalmente incoerente. Gasta-se demais com um nível de Ensino, o superior, que atende uma parcela pequena da sociedade, e se gasta proporcionalmente menos no nível Básico, que atende toda a população. E mesmo assim, há, segundo muitos estudos, dinheiro suficiente. O problema é que o monstro do centralismo brasiliense inviabiliza a adequada alocação de recursos, como já demonstrei aqui e aqui.

Principal seara

                As Universidades ainda são a principal seara de onde se colhe formadores de opinião. É de lá que saem a maioria dos profissionais que estarão formando nossos filhos, decifrando e escrevendo a História, interpretando os fenômenos sociais. Estarão dirigindo as empresas e divulgando as notícias. De lá saem o engenheiro que projeta e edifica, mas também o advogado que representa seu cliente diante de um litígio ou dos excessos do Estado. Não obstante, nada é puramente técnico. Todo processo ensino/aprendizagem, por mais pragmático e utilitário que seja, é perpassado por uma visão de mundo ou uma ideologia. E isso faz toda a diferença na formação do jovem.

 E aqui quero retornar à questão que abordei no artigo anterior, de que uma das funções da Universidade, notoriamente no que tange à Ciência, é investigar o mundo tal qual ele é, e não adequá-lo a um determinado discurso ou narrativa. Um Estado gigante e centralizador como o brasileiro, já está mais que demonstrado, gera apenas ineficiência, desperdício, corrupção e tirania. Este é um fato dado, e por isso irrefutável! Então, por que ainda se ensina e se cria ativistas em nossas Universidades em defesa do gigantismo e do centralismo estatal? A explicação só pode ser cegueira, reles interesse pessoal e corporativo, ou cooptação do pessoal acadêmico por aqueles que querem se manter no poder. Como até o cego percebe a realidade por outros meios e sentidos, só nos resta a segunda e a terceira opções, que se amalgamam. Evidência disso é o fato de que projetos acadêmicos que não coadunam com o programa estatista raramente são liberados e, muito menos, financiados. É uma máquina de poder que se retroalimenta.

Ledo engano

                Muito se exalta a qualidade das Universidades públicas, sem as quais, dizem seus apaixonados arautos, não haveria ensino superior de excelência no Brasil. Ledo engano! E de novo apelo para a realidade como testemunha. Vejam os Estados Unidos. Poucas Universidades de lá são públicas, que aliás, são pagas. No entanto, todas as de alta reputação são privadas. No Reino Unido há uma profusão de Universidades independentes e privadas de qualidade. Os exemplos se somariam, e do outro lado poderiam os defensores das públicas apresentar exemplos de seu lado em vários países. A questão que eu quero levantar é: trata-se de uma falácia afirmar que o ensino superior de qualidade no Brasil depende das Universidades públicas. Antes o contrário, como afirmei acima, as nossas Universidades públicas não têm uma reputação elevada no cenário internacional. Somente uma, a USP, aparece entre as 100 melhores do mundo, e na posição 85ª.

                O custo elevadíssimo, a oferta de cursos nem sempre levando em conta as demandas da sociedade, o público atendido sendo na maioria os mais abastados, a condição privilegiada e a aversão à fiscalização, a ideologização visando à permanência do status quo, mesmo defendendo ideias e projetos estatais já demonstrados como repressores da Liberdade e da prosperidade econômica . . . Tudo isso nos faz refletir sobre a validade das Universidades públicas brasileiras.

Depuração

                Mas há alguma alternativa? Lógico. Exemplos não faltam. E devemos nos espelhar no que dá certo e não insistir num modelo que muito tira da sociedade e muito pouco a ela retribui.

                O Sul Livre já nascerá depurado do centralismo político e administrativo, que é um dos grandes males que corrompem as Universidades naquilo que lhes é mais sagrado, sua missão de investigar a realidade e, se for necessário, adequar o discurso ao que é descoberto, não o contrário. Além de formar profissionais e espíritos amantes da Liberdade. Veremos isso no próximo artigo.

Viva o Sul Livre!

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