Universidades: A Missão
Fábio Zucco
Nos primeiros artigos do blog eu tratei da Educação, sem deixar explícito, me referia em especial à Educação Básica. Mostrei como no Brasil a alocação de recursos é deficiente, gerando desperdícios e carências nas unidades escolares, e corrupção nos órgãos responsáveis pela compra e distribuição de materiais e recursos. No tocante à pedagogia, a alma de qualquer escola, prevalece uma imposição ideológica que quase nunca está de acordo com os valores das famílias dos estudantes. E, deixei bem claro, que a raiz do problema é a extrema centralização política e administrativa: marca, mácula e anátema do Brasil.
Nos mesmos artigos apresentei a alternativa, em forma de proposta, do Movimento O Sul É O Meu País-MSMP, tal qual dela eu infiro aplicações. No Sul Livre a Educação Básica será de responsabilidade do município, o que, por si só, já mitiga em muito os problemas provindos de um sistema centralizado e planificado, como este que vivemos hoje em dia, tanto no que se refere à alocação dos recursos, quanto às questões de cunho pedagógico. Mais do que isso, sendo o MSMP liberal na sua essência, o sistema educacional terá muito pouca regulamentação, viabilizando o surgimento de escolas comunitárias e privadas, ou cooperativas de ensino. O cidadão sulista não estará engessado por padronizações que restringem a liberdade de escolha das famílias.
Breve histórico
No entanto, chegou a hora de falarmos das Universidades, que são um caso totalmente à parte no que diz respeito a gerenciamento. Abrir e manter uma escola de ensino básico é relativamente barato e simples se compararmos com uma escola de ensino superior. Esta demanda investimento muito maior e um corpo docente bem mais especializado, além de instalações bem mais complexas. Então, como serão as Universidades no Sul Livre?
Antes de responder a essa pergunta, primeiro quero fazer um brevíssimo resgate histórico da origem das Universidades, bem como fazer uma reflexão sobre o papel destes estabelecimentos de ensino na sociedade atual. Este é o objetivo deste primeiro artigo acerca das Universidades.
Foi nos idos da Baixa Idade Média que surgiram as primeiras Universidades, sempre como extensão e aprimoramento das escolas eclesiásticas. Ou seja, criadas pela Igreja Católica. No entanto, logo esses estabelecimentos de ensino foram diversificando seu campo de estudo, e, como era de se esperar, o desenvolvimento do pensamento crítico fez com que verdades antes tidas como certas e imutáveis passassem a ser questionadas. A investigação do mundo e seus fenômenos, agora vistos como naturais, criou choques, pois os próprios postulados da Igreja passam a ser colocados em xeque. Não haveria a Revolução Científica da época do Renascimento sem as Universidades. E isso só foi possível porque a grande missão delas logo passou a ser o desenvolvimento do juízo racional e a investigação científica, não sendo possível o segundo sem o primeiro.
Fato X Autoridade
Lembro-me, como se fosse hoje, de um texto passado pelo professor de Filosofia Moderna em que o autor destacava que o sucesso da Revolução Científica se deu porque os primeiros cientistas modernos passaram a colocar o fato acima da autoridade e da tradição, opondo-se radicalmente ao status quo intelectual da época. Ou seja, antes de Francis Bacon, Galileu Galilei, Giordano Bruno e outros, se a observação empírica dizia uma coisa, mas as autoridades intelectuais ou religiosas diziam outra, os estudiosos deveriam rejeitar suas observações em favor do já posto. O caso mais clássico é o da grande dificuldade de aceitação do Heliocentrismo, mesmo que o modelo anterior, o Geocentrismo, deixasse muitas lacunas. Mas na época, seguindo a tradição e a autoridade de filósofos antigos, se defendia que o Sol girava em torno da Terra. E bastava! Foi preciso muito espírito crítico e observação, e algumas prisões e corpos queimados, para que o fato, a realidade, se impusesse.
E para quem olha com desdém àqueles que defendiam o Geocentrismo, o qual, sob um olhar menos acurado faz sentido, deveriam prestar mais atenção para nossas atuais Universidades brasileiras, com cursos e professores ensinando coisas que a História e eventos atuais franqueiam como absurdas. Enfim, parece que a grande missão das primeiras Universidades, pelo menos a de alguns de seus filósofos e cientistas, a de dar primazia ao fato em detrimento das narrativas, está sendo completamente esquecida.
Oferta insensata
Por muito tempo aconselhei meus alunos a fazerem a faculdade, como se sem ela não seria possível um bom futuro profissional. As coisas mudaram ou nunca foram como eu achava que fossem. A questão é que eu mudei! Hoje aconselho que reflitam bem se um curso superior é o melhor para suas ambições. Digo isso para levantar uma questão: mesmo sabendo da importância das Universidades, não as estamos supervalorizando? Muitas vezes um curso técnico supre as necessidades de qualificação do jovem. Outras, esse curso será propedêutico, dando ao futuro profissional a certeza e os alicerces para um bom curso superior. O que não podemos é ver no Ensino Superior uma panaceia para resolver todos os problemas de uma nação.
Veja, há muitos poréns quando se enaltece o Ensino Superior. Primeiro, quem está cursando? Com qual preparo o graduando está estudando? Isso nos remete à qualidade dos níveis anteriores de ensino, que, como bem sabemos, é sofrível. Sem base, que profissionais sairão daí?
Outra questão: que cursos estão sendo ministrados? Aqui o alvo é claro: as Universidades públicas. Um estudo exibido num dos programas da Brasil Paralelo mostra que as Universidades públicas, via de regra, não oferecem cursos segundo a demanda de Mercado, ofertando uma quantidade insensata na área de humanas, como Sociologia. Exatamente naquela área de predomínio de uma mentalidade medieval em que a narrativa fala bem mais alto do que o fato. Estou sendo injusto? Fugindo das generalizações, é notório que é exatamente os professores, graduandos e egressos desses cursos de humanas os que defendem sistemas políticos que a História já condenou e a atualidade os escancara como tiranias e economicamente deletérios. Então, vamos pautar a oferta de cursos superiores conforme os desejos do Mercado? – deve estar se remoendo o anticapitalista. Sim, devemos, respondo muito tranquilamente. O Mercado, meu amigo, nada mais é do que a dinâmica das relações humanas de troca. As Universidades devem, sim, suprir o Mercado em suas demandas de cursos superiores. Essa é a forma delas atenderem a sociedade no que lhes cabe.
Elite pensante
Toda sociedade necessita de uma elite pensante. E é nas Universidades, principalmente, que se forja a estrutura intelectual de uma nação. Não obstante, a qualidade do metal depende do minério, mas também do forno e de seu operador. Não podemos nos esquecer da grande missão das Universidades de desenvolver o senso crítico e de entender a realidade, e não adequá-la ao discurso. No entanto, quando vemos jovens e professores de História e Filosofia, conhecedores que são da longa caminhada humana, seus acertos e seus erros, levantando bandeiras em defesa de modelos ideológicos ultrapassados, esteios de tiranias, ou então a apatia de docentes e estudantes de Direito diante do desrespeito às mais basilares normas jurídicas, colocando em risco o Estado Democrático de Direito, é de se perguntar: o que estão ensinando nas Universidades? Em que momento as Universidades se perderam? Em que momento os interesses pessoais e corporativos suplantaram a busca por um saber edificador da Liberdade?
Fazer parte da elite pensante deveria ser, antes de mais nada, um constante exercício de humildade. O intelectual deveria ser o sábio a la Sócrates, do tipo “Só sei que nada sei?” Ter um cabedal intelectual, leitura de centenas de livros, escrito outros tantos, não habilita ninguém a decidir a vida de outrem, por menos instrução que a pessoa tenha. Toda tirania se alicerça na arrogância de autocratas e intelectuais que se arvoram o direito de definir o destino de todas as pessoas de uma nação. Se é pra isso que servem as Universidades, melhor ficar só com as áreas técnicas, passar o cadeado e “fechar essa porcaria”, como disse um certo parlamentar liberal se referindo ao Congresso Nacional.
Centralismo
Outra indagação acerca do superdimensionamento da importância das Universidades é a real necessidade da existência das Universidades públicas. E esse será o tema do próximo artigo. Enquanto isso, temos que ter em mente e nunca esquecer o grande mal que assola, sempre assolou e sempre assolará o Brasil: o centralismo. Se trava a economia e encarece as relações de troca, se onera e engessa as relações de trabalho, se corrompe a política e a faz decair inexoravelmente em ditadura, se gera pobreza e outros problemas sociais, se afasta os pais da escola e inviabiliza uma Educação Básica de qualidade, imagine você o mal que o centralismo planaltino faz pelo Ensino Superior!!!
No Sul Livre, como veremos mais adiante, a decisão a respeito das Universidades caberá a cada município e ao Mercado.
Viva o Sul Livre – Nação de Sabedoria
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